Que o terceiro imperador romano tenha sido um sanguinário, ninguém
duvida. Suas famosas crises de epilepsia, porém, explicam pouco ou nada
desse perfil. Para conhecê-lo, é preciso falar de suas origens
familiares e do ambiente depravado que o cercava.
COLEÇÃO PARTICULAR/© THE BRIDGEMAN ART LIBRAY/KEYSTONE
O aspecto assustador e o desequilíbrio mental do terceiro imperador de
Roma inspiravam medo e terror na população Caligula Caesar, gravura,
artista da escola italiana, 1596
A história não foi complacente com Calígula, o detentor de um reinado
tão curto quanto violento no primeiro século de nossa era, em Roma. Ele
permaneceu no poder de março de 37 até seu assassinato, em janeiro de
41. Foi o terceiro imperador romano, membro da dinastia júlio-claudiana,
iniciada por Augusto.
A reputação de louco feroz, capaz de incríveis crueldades, foi
construída ao longo de apenas quatro anos de poder, um período curto
demais para fama tão arraigada, mas nada indica que ele fosse diferente
do que ainda hoje se diz do personagem. O próprio nome Calígula
tornou-se sinônimo de atrocidade.
Cabe, contudo, buscar a fonte primordial: a obra A vida dos doze
césares, do escritor e historiador Caio Suetônio (69-c.141), que não foi
contemporâneo de Calígula, mas ótimo observador dos costumes romanos.
Outros historiadores, como Filo (30-50 d.C.), Josefo (37-92 d.C.) e Dião
Cássio (data imprecisa do século II), também citaram o imperador em
suas obras. Especificamente no caso de Calígula, Suetônio é de longe o
mais influente entre os quatro, mesmo que se apontem frequentemente
imperfeições em sua obra.
Para conhecer o monstro da antiga Roma, parece uma boa opção desistir de
buscar refúgio atrás das crises de epilepsia de Calígula e de algumas
insanidades a ele atribuídas. Doenças física e mental explicam uma
parte, talvez pequena, da biografia. A outra parte passa necessariamente
por sua origem familiar, o ambiente depravado no qual cresceu e,
sobretudo, o estado das instituições do Império.
Até porque na Antiguidade a epilepsia simplesmente não era compreendida
como hoje. Era um estigma na vida do paciente e uma mancha em sua
biografia. Foi preciso que nascessem homens como os escritores Fiodor
Dostoievski e Gustave Flaubert ou um teórico e político como Vladimir
Lenin, todos epiléticos, para que o mundo passasse a ver a doença de
outra forma. A percepção de que doença e crueldade não caminham juntas
certamente nem passava pela cabeça dos historiadores antigos.
CNG COINS (HTTP://WWW.CNGCOINS.COM)
Moeda cunhada durante o reinado de Calígula (37 - 41 d.C.), com efígie
do imperador em um dos lados (à esq.) e de suas três irmãs, Agripina,
Drusela e Júlia
MITOLOGIA PESSOAL
Caio César Augusto Germânico, vulgo Calígula, nasceu em Âncio, província
de Roma na região do Lácio, no dia 31 de agosto do ano romano 765, ou
seja, no ano 12 de nossa era. Seu pai era Germânico, sobrinho de
Tibério, e sua mãe, Agripina Maior, neta de Augusto.
Sendo Tibério filho de Lívio, adotado por Augusto, Calígula pertencia à
linhagem de César, alegadamente descendente do lendário Ascânio, filho
do troiano Enéas, ele mesmo filho de Vênus. Sua origem, como se vê, se
mistura com a mitologia.
Ainda jovem, Calígula manifestava as qualidades do pai, homem de
personalidade e de honestidade escrupulosas, além de um general notável.
Germânico era amado pelo povo. E, de início, o filho Calígula também
era, pois se mostrava brilhante e muito modesto. Frequentava as tropas
do pai e se vestia como legionário, exibindo nos pés as caligae (espécie
de calçado) regulamentares, o que lhe valeu o codinome.
Mais tarde, entregue às intrigas do círculo de Tibério, ele sucumbiu às
promessas de agitadores – em particular de Névio Sutório Macro, o líder
da guarda pretoriana, que garantia a segurança do imperador. Era tal o
poder de um prefeito pretoriano à época que por vezes ele assumia a
condição de “segundo homem” do Estado. Macro preparava em segredo a
sucessão do imperador e mobilizou todos os meios para que a dignidade
imperial coubesse a Calígula. Foi então que surgiram os primeiros sinais
da nova vida de desregramento do jovem herdeiro, que desembocaria em
ligação explícita com a irmã, Agripina Menor, a futura mãe de Nero, e de
todo tipo de fantasias bissexuais.
MUSEU ROMANO-GERMÂNICO, COLÔNIA (AGRIPINA) / GLIPTOTECA DE MUNIQUE /© BIBI SAINT-POL/CREATIVE COMMONS (DRUSELA)
Agripina Menor (à esq.) e Drusela (à dir.), duas irmãs com quem Calígula
mantinha relações sexuais. O imperador também as obrigava a se
prostituir Agripina Menor e Drusela, esculturas em mármore, autor
desconhecido, sem data
Um episódio narrado pelo historiador Públio Cornélio Tácito (55-120
d.C.) atesta a atmosfera que reinava em torno de Calígula. Certa vez, o
imperador Tibério aportou no cabo Miseno, em Catânia, hoje região da
Sicília. Seu médico pessoal não tardou a atestar que o velho não tinha
mais que dois dias de vida. Foi o que bastou para que se instalasse uma
rede de intrigas palacianas.
Nas palavras de Tácito: “No dia 17 das calendas de abril, Tibério
mergulhou em uma inconsciência profunda: acreditou-se que ele estava
morto. Caio [o nome verdadeiro de Calígula], já em meio às felicitações
de uma numerosa corte, saía para tomar posse do Império quando alguém
veio subitamente anunciar que Tibério recuperava a consciência, a fala.
(...) Caio, em um silêncio morno, não esperava outra coisa senão o
suplício; Macro, mais ousado, mandou sufocar o ancião sob uma pilha de
cobertores, e ordenou que todos se retirassem. Assim desapareceu
Tibério, aos 78 anos de idade”.
E assim começou o reinado de Caio Calígula.
Mas quem comandava o jogo a partir de então? Seguramente não era
Calígula. O imperador não passava de um chefe dos exércitos que devia
seu poder a um bandode guerreiros que o escolheram para comandante.
Aparentemente, tudo estava de acordo com as leis. Havia um Senado,
guardião das instituições romanas. Havia magistraturas, todas
respeitadas. Calígula foi reconhecido como imperator, mas também era
cônsul, pretor, censor, edil, “tribuno do povo” e, sobretudo, grande
pontífice, mestre da religião oficial romana.
ROGER-VIOLLET /TOPFOTO/KEYSTONE
O imperador aproveitava espetáculos de gladiadores para lançar inimigos
às feras, assim como combatentes que demonstrassem fraqueza Calígula
retratado por Suetônio, ilustração de Gustav Surand, 1901
Só que o conjunto abrigado sob a denominação de Império Romano, com um
líder inconteste à frente, não era mais que uma gigantesca vigarice.
Simplesmente porque por trás de um personagem que desempenhava o papel
principal agiamos que o manipulavam. Essa era a fraqueza e o paradoxo do
sistema.
O imperador era necessário, pois era a imagem do poder de Roma. Nessas
condições, deixava-se que ele agisse como bem quisesse, desde que não
contrariasse os interesses da classe dirigente. O povo nunca intervinha,
pois os habitantes de Roma já não eram os virtuosos cidadãos da
República, o regime que vigorou de 509 a.C. a 27 a.C. No Império a
população, de modo geral, poderia ser comparada a uma multidão de
desocupados e mendigos que se calavam se fosse distribuída comida e
providenciadas distrações, como os combates do Circo.
Calígula adorava presidir essas festas, aliás. Ele se sentia o senhor e
mestre de Roma e se regozijava ouvindo elogios a sua pessoa e majestade e
notando a bajulação que fortalecia sua indomável megalomania.
Paralelamente, se desenvolvia dentro do jovem imperador uma paranoia
igualmente invencível. Roma teve o azar de essa pessoa ser o homem a
quem o Estado facultava decidir, em nome da coletividade, o que era bom
ou mau, quem obteria os favores do governo e, pior, quem deveria ser
eliminado.
Os crimes de Calígula passaram a ser incontáveis. E suas fantasias e
excentricidades também. Sobre isso, o historiador Suetônio conta que o
imperador presenteou o cavalo com uma estrebaria feita de mármore, uma
dentadura de marfim, sem falar de uma casa e de empregados para tratar
esplendidamente os convidados em nome do animal. Diz-se que quis
transformar o quadrúpede em cônsul.
DIVULGAÇÃO
Cena do filme Calígula, de 1978, na qual o diretor Tinto Brass recria uma orgia na corte do terceiro césar
Como seu orgulho não tinha limites, ele mandou fazer uma estátua de si
mesmo, como se fosse Júpiter, e ordenou que fosse colocada no Templo de
Jerusalém. Júpiter não é um deus qualquer da mitologia romana, derivada
da grega. É o senhor do Olimpo, pai de muitos outros deuses, como Marte e
Vênus, por exemplo. E o Templo de Jerusalém – no caso, o segundo – era o
secular local de culto de Deus de Israel.
Nessas agressivas incursões mitológicas e religiosas, a loucura de
Calígula não deixava de ter natureza mística. Mesmo seus desregramentos
sexuais tinham algo de sagrado. O incesto remetia ao casamento dos
faraós com as respectivas irmãs. Já a orgia era uma ativação das forças
cósmicas, por meio da qual se atingia o sublime. O imperador queria se
transformar em um deus.
Ocorre que nesses assuntos da alma a mentalidade da população trilhava
caminhos distintos. A religião romana rejeitava a teofania, ou seja, a
encarnação de um deus exterior nos vivos. A palavra-chave da mística
romana era a apoteose, o rito funerário que divinizava o defunto. O
primeiro imperador romano, Otávio Augusto, por exemplo, havia recusado
em vida as honras divinas. Teve, porém, direito a uma apoteose depois de
morto. Calígula, porém, não quis esperar a morte para se tornar um
deus.
Em virtude da exigência do sistema romano de que o imperador fosse
eleito, chegou o momento em que os que governavam efetivamente já não
precisavam de personagem tão tresloucado apenas para fazer a figuração.
Os excessos de Calígula deveriam andar tão insuportáveis que os
verdadeiros governantes de Roma decidiram se livrar dele. Foi mais uma
vez o chefe da guarda pretoriana que comandou a ação. Em 24 de janeiro
do ano 41, Calígula foi assassinado e substituído por Cláudio.
Queridos Leitores Tenho recebido muitas Msgs.de pessoas de todo o Mundo,É satisfatório receber o apoio e de vcs.o que muito me honra.escrevem perguntas sobre o Misticismo ufologia Etc.duvida e fatos nao aparente-mente normais,querendo saber mais,sobre fatos acontecido pelo mundo,gente interessada em buscar de mais infomaçoes, e vou tenta mostras e encina um pouco esse mundo estranho que vivemos! Misticismo um inicio em busca da identidade,consciente uma realidade, divindade, verdade espiritual.
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