Do monstro do lago Ness ao Kraken (espécie de lula ou polvo gigante que ameaçava os navios no folclore nórdico), criaturas marinhas não ficaram tão no passado quanto gostaríamos: a imaginação dos cartógrafos medievais nos deixou heranças assustadoras.
Para Charles Paxton, pesquisador escocês, os avistamentos de monstros do mar são mais do que contos de pescador. Charles é um ecologista que acredita que, com os métodos corretos, anedotas sobre monstros misteriosos podem tornar-se dados científicos que nos dizem algo sobre a percepção humana e fenômenos estranhos que a ciência não pode explicar.
Charles e seus colegas vão discutir em breve maneiras de trazer a criptozoologia – estudo de espécies animais lendárias, mitológicas, hipotéticas ou avistadas por poucas pessoas de um ponto de vista antropológico – de uma vez por todas para a gama da Ciência.
Quer saber por que existem cientistas sérios interessados em uma área que parece tão mística? Entenda um pouco sobre a criptozoologia, nessa entrevista com um de seus principais defensores, Charles Paxton:
O que te levou a estudar avistamentos de monstros marinhos?
Charles Paxton: Várias razões. Na verdade, provavelmente a principal delas é que eu sou uma criança até hoje e penso que é interessante. A razão mais científica é que estou interessado em por que as pessoas acreditam nas coisas que acreditam, especialmente se suas crenças são “fora do padrão”. E a terceira razão é que é importante compreender como a ciência tenta relacionar dados anômalos, dados que não se encaixam em nossos paradigmas existentes.
Charles Paxton: Várias razões. Na verdade, provavelmente a principal delas é que eu sou uma criança até hoje e penso que é interessante. A razão mais científica é que estou interessado em por que as pessoas acreditam nas coisas que acreditam, especialmente se suas crenças são “fora do padrão”. E a terceira razão é que é importante compreender como a ciência tenta relacionar dados anômalos, dados que não se encaixam em nossos paradigmas existentes.
Você agrupou avistamentos de monstros do mar para estudá-los estatisticamente. O que você encontrou?
CP: Eu estava interessado em olhar para as distâncias relatadas, em relacioná-las. Seria de se esperar que os relatórios fossem aleatórios, de animais aparecendo em torno de barcos. Mas se você olhar para a distribuição de distâncias relatadas de monstros do mar, elas são muito mais próximas do que se esperaria se fosse pelo acaso. Isso implica que há uma grande tendência quando se trata de avistamentos de monstros marinhos.
CP: Eu estava interessado em olhar para as distâncias relatadas, em relacioná-las. Seria de se esperar que os relatórios fossem aleatórios, de animais aparecendo em torno de barcos. Mas se você olhar para a distribuição de distâncias relatadas de monstros do mar, elas são muito mais próximas do que se esperaria se fosse pelo acaso. Isso implica que há uma grande tendência quando se trata de avistamentos de monstros marinhos.
O que esse padrão nos diz sobre a validade desses relatórios?
CP: Significa provavelmente que temos que ser mais duvidosos sobre uma possível explicação para os avistamentos de monstros do mar. Eu esperava que os relatórios fossem muito distantes. Pensei que as pessoas estavam relatando monstros porque tinham visto coisas não familiares à distância. Mas as distâncias relatadas são muito mais próximas do que se esperaria. Se as testemunhas estão interpretando mal as coisas, isso está acontecendo mesmo em curtas distâncias.
CP: Significa provavelmente que temos que ser mais duvidosos sobre uma possível explicação para os avistamentos de monstros do mar. Eu esperava que os relatórios fossem muito distantes. Pensei que as pessoas estavam relatando monstros porque tinham visto coisas não familiares à distância. Mas as distâncias relatadas são muito mais próximas do que se esperaria. Se as testemunhas estão interpretando mal as coisas, isso está acontecendo mesmo em curtas distâncias.
Algum desses relatos históricos é realmente plausível?
CP: Há um relatório de dois zoólogos, no início do século, publicado em jornais científicos, no qual eles afirmam terem visto um animal parecido com uma serpente no Atlântico sul. A descrição do animal não se encaixa em nossa visão atual. Isso é intrigante.
CP: Há um relatório de dois zoólogos, no início do século, publicado em jornais científicos, no qual eles afirmam terem visto um animal parecido com uma serpente no Atlântico sul. A descrição do animal não se encaixa em nossa visão atual. Isso é intrigante.
Conte-nos sobre um relatório implausível.
CP: Um avistamento muito famoso de monstro marinho no século 18 é a lenda de pessoas que viram um monstro do mar na rota para a colônia dinamarquesa na Groelândia. O que eles viram foi um animal que descreveram como tendo uma cauda de serpente. Os cientistas sugerem que poderia haver uma explicação alternativa para o que eles interpretaram como uma cauda: poderia ser o pênis do animal. Se você fizer uma busca por “pênis de baleia” na internet, verá fotos e confirmará que se parece bastante com uma serpente.
CP: Um avistamento muito famoso de monstro marinho no século 18 é a lenda de pessoas que viram um monstro do mar na rota para a colônia dinamarquesa na Groelândia. O que eles viram foi um animal que descreveram como tendo uma cauda de serpente. Os cientistas sugerem que poderia haver uma explicação alternativa para o que eles interpretaram como uma cauda: poderia ser o pênis do animal. Se você fizer uma busca por “pênis de baleia” na internet, verá fotos e confirmará que se parece bastante com uma serpente.
Sendo assim, partes não identificadas do corpo de animais poderia explicar muitos avistamentos de monstros do mar?
CP: Até acho que sim, mas não tenho nenhuma evidência quantitativa de que isso aconteça. Na verdade, estou recolhendo dados sobre isso. Acho que as pessoas cometem erros. Quando você vê algo na água, há muitos e muitos animais de grande porte que poderiam potencialmente ser o que você acha que viu. Não há ninguém no mundo que seja especialista em todos esses animais. Zoólogos, quando veem um animal, têm recursos para relacionar características, ao passo que os leigos não fazem necessariamente isso.
CP: Até acho que sim, mas não tenho nenhuma evidência quantitativa de que isso aconteça. Na verdade, estou recolhendo dados sobre isso. Acho que as pessoas cometem erros. Quando você vê algo na água, há muitos e muitos animais de grande porte que poderiam potencialmente ser o que você acha que viu. Não há ninguém no mundo que seja especialista em todos esses animais. Zoólogos, quando veem um animal, têm recursos para relacionar características, ao passo que os leigos não fazem necessariamente isso.
Você acha que há uma probabilidade grande de existirem criaturas marinhas desconhecidas lá fora?
CP: Sim. Mas, para deixar absolutamente claro, minha posição sobre isso é bastante incomum. Gostaria de dizer sem qualquer dúvida que existem animais desconhecidos lá fora. A razão para isso é que, se você olhar para a taxa em que estamos descobrindo novas espécies, é meio óbvio que ainda existem coisas que não descrevemos em nenhum lugar. A questão não é: “há animais marinhos de grande porte desconhecidos?”. A pergunta é: “Eles são vistos pelos leigos antes de serem descobertos?”. A resposta para isso é “Provavelmente não”.
CP: Sim. Mas, para deixar absolutamente claro, minha posição sobre isso é bastante incomum. Gostaria de dizer sem qualquer dúvida que existem animais desconhecidos lá fora. A razão para isso é que, se você olhar para a taxa em que estamos descobrindo novas espécies, é meio óbvio que ainda existem coisas que não descrevemos em nenhum lugar. A questão não é: “há animais marinhos de grande porte desconhecidos?”. A pergunta é: “Eles são vistos pelos leigos antes de serem descobertos?”. A resposta para isso é “Provavelmente não”.
Por que não?
CP: Logicamente, os animais que não descobrimos ainda são os mais difíceis de detectar, o que significa que seria muito raro que as pessoas os encontrassem de qualquer maneira. Sabemos que existem padrões no processo de avistamentos, e sabemos que para ter o potencial de reconhecer um animal desconhecido, você precisa ter experiência soberba. Em termos de mamíferos marinhos, por exemplo, só posso pensar em cerca de 10 pessoas no mundo que, se vissem um mamífero marinho diferente, estariam em posição de dizer: “isso é um mamífero marinho que nunca descrevemos”. Não podemos explicar todos os relatórios estranhos, mas só porque as pessoas não conseguem explicar um relatório não significa que ele é um animal desconhecido.
CP: Logicamente, os animais que não descobrimos ainda são os mais difíceis de detectar, o que significa que seria muito raro que as pessoas os encontrassem de qualquer maneira. Sabemos que existem padrões no processo de avistamentos, e sabemos que para ter o potencial de reconhecer um animal desconhecido, você precisa ter experiência soberba. Em termos de mamíferos marinhos, por exemplo, só posso pensar em cerca de 10 pessoas no mundo que, se vissem um mamífero marinho diferente, estariam em posição de dizer: “isso é um mamífero marinho que nunca descrevemos”. Não podemos explicar todos os relatórios estranhos, mas só porque as pessoas não conseguem explicar um relatório não significa que ele é um animal desconhecido.
Você tem um monstro marinho favorito?
CP: Eu gosto muito do “monge do mar”, uma criatura com cabeça de monge e corpo de peixe. A ideia de que há um monge vivendo no mar é completamente bizarra. Gosto muito do Kraken também. Não é o que as pessoas dizem que é, na verdade. As pessoas costumam dizer que o Kraken é uma lula gigante mitificada. Se você olhar para os avistamentos iniciais do Kraken, eles não são como uma lula gigante. É muito semelhante a um monstro, que seria um peixe ou uma baleia, tão grande que fica por tanto tempo parado que árvores crescem sobre ele. Os marinheiros o veem, vão para sua “terra” e fazem uma fogueira. Assim, ele salta para o fundo do mar e arrasta o navio para baixo. Eu acho que o Kraken está ligado a isso, porque sua descrição o liga a uma ilha.
CP: Eu gosto muito do “monge do mar”, uma criatura com cabeça de monge e corpo de peixe. A ideia de que há um monge vivendo no mar é completamente bizarra. Gosto muito do Kraken também. Não é o que as pessoas dizem que é, na verdade. As pessoas costumam dizer que o Kraken é uma lula gigante mitificada. Se você olhar para os avistamentos iniciais do Kraken, eles não são como uma lula gigante. É muito semelhante a um monstro, que seria um peixe ou uma baleia, tão grande que fica por tanto tempo parado que árvores crescem sobre ele. Os marinheiros o veem, vão para sua “terra” e fazem uma fogueira. Assim, ele salta para o fundo do mar e arrasta o navio para baixo. Eu acho que o Kraken está ligado a isso, porque sua descrição o liga a uma ilha.
Você é escocês. Acredita no monstro do lago Ness?
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